segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Cartas Para o Papai Noel ( LuAr ) - Parte 2

Especial de Natal




12 dias antes do Natal

Eu olhava o relógio da igreja impaciente.
            Tinha chego ali as dez pras quatro... E agora já eram quatro horas.
            Estou apreensivo. Será que ela não vem?
            - Oi – Escuto uma linda voz atrás de mim e dou um suspiro de alivio.
            Olho para trás e encontro aquele sorriso...
            - Oi – Respondo sorrindo também. Não tem como não fazê-lo, a alegria de Lua era, é e sempre será contagiante.
            Ela chega perto de mim e me abraça.
            Meu coração bate tão rápido que nem consigo senti-lo direito. Seu corpo ali, tão perto do meu...
            - Posso ser sincera? – Ela pergunta me soltando e me trazendo de volta dos meus sonhos.
            - Sempre – Eu respondo.
            - Você parecia preocupado? Aconteceu alguma coisa.
            Ah, isso.
            Acho melhor ser sincero. Bem, sempre né...
            - Na verdade – Começo a dizer – Estava preocupado que você não viesse.
            Ela ri. Ela ri de verdade. E o som da sua risada é lindo, mesmo que ela esteja rindo da minha cara.
            - Arthur! São só 16h06.
            - Eu sei, mas eu sempre quis ter a chance de te conhecer melhor, e você sumiu por todo aquele tempo, não sei nada sobre você, só que se chama Lua, não conseguiria te achar e... – Eu tento explicar, mas percebo que falei demais ao olhar seu rosto.
            Ela está mordendo o lábio para não rir. Fico encarando-os. Eles tem um contorno perfeito, juntamente com um tom rosado que a deixa inocente... São perfeitos. Automaticamente sinto uma vontade de beijá-la. Vontade que eu dispenso na mesma hora.
            - Ah Arthur – Ele diz balançando a cabeça – Vamos tomar o sorvete logo porque tenho um compromisso daqui a vinte minutos.
            Fico triste no mesmo instante.
            - Aah.
            - Não fique mal, Thur... – Ela me chama de uma forma que nunca fui chamado por ninguém.
            - Thur? – Pergunto sorrindo.
            Ela cora intensamente. O tom de suas bochechas rosadas a torna ainda mais atraente.
            Como se fosse possível.
            - Desculpa – Ela diz completamente envergonhada. Não quero que ela peça desculpas por ter me chamado de Thur – Eu não devi...
            - Não se desculpe eu a corto. Pode me chamar assim, eu gostei...
            Ela sorri.
            - Bom Thur... Nós só temos 15 minutos - Ela olha para o relógio – 14 agora. Melhor irmos logo né?
            - Melhor – Digo por fim.
            Começamos a caminhar em silencio para a sorveteria, que fica logo atrás da praça.
            Chegando lá entramos e pedimos sorvete, eu de chocolate e ela de morango.
            - O que você acha de a gente comer lá fora – Digo apontando para o lado de fora da sorveteria, onde tem algumas mesas.
            - Ok – Ela diz.
            Vamos para fora e nos sentamos-nos à mesa da sorveteria.
            - E ai? – Ela pergunta – Me conta. Porque você sempre fica na praça.
            Eu respiro fundo e penso no que responder.
            - Nada demais... Eu só me sinto bem lá. Sinto-me em casa.
            Ela da um sorrisinho sincero e começa a tomar seu sorvete, e eu acompanho.
            - Você não é igual aos outros - Ela começa a dizer – Não sei explicar. Falei com você pela primeira vez há dois dias, mas sei que você é especial.
            Sinto-me feliz como há muito tempo não me sentia.
            - Digo o mesmo para você.
Ela era, era muito especial.
- Olha aquela família – Ela diz apontando para uns garotos acompanhados pelos pais – Olha como os pais se olham, como eles parecem se amar, como as crianças estão felizes... – Ela diz tocando uma parte dolorida de mim.
Sim, eu me machucava todos os dias ao ver crianças felizes e amadas por seus pais. Eu sentia inveja...
Lua deve ter percebido por minha cara que o assunto não tinha me agradado.
- Desculpa perguntar – Ela diz tímida – Mas... tem algum problema? Não sei, você ficou estranho e...
- Bonita essa parte da cidade nessa época né? – Eu mudo de assunto do nada e ela percebe que não quero falar sobre aquilo. Eu sei que ela se abriu para mim ontem, mas eu não estou preparado para isso.
- Eh muito – ela responde.
Não sei se já comentei isso, mas realmente aquela região ficava linda no natal.
Enquanto a pracinha tinha todas as árvores cheias de luzinhas, além da casinha do papai Noel e do trenzinho, tinha a igreja, a qual a torre era toda iluminada e enfeitada. Os postes tinham todos enfeites e os estabelecimentos ao redor da praça também caprichavam nas luzes.
Era realmente bonito.
Mas eu não me importava. Pelo menos não até agora...
- tenho que ir – escuto ela dizer.
Eu tenho que parar com essa mania de viajar na minha cabeça quando estou com ela, não posso perder o pouco tempo que tenho ao seu lado...
- Mas já?
- Pois é, já estou atrasada até – Diz ela se levantando – Mas quero te recompensar por isso. Que tal nos encontrarmos para ir ao cinema?
- Por mim tudo bem. – Respondo mais tranqüilo por saber que ela quer me ver novamente.
- Pode ser terça? – Ela pergunta – É que amanhã tenho um compromisso em família e depois tenho provas da faculdade, a ultima é na segunda – Ela responde e eu sinto uma pontada por pensar que ela sairá com a família, quando eu não tenho ninguém...
Ela novamente parece ver minha cara e continua.
- Terça então?
- Tudo bem.
- Umas seis horas? – Ela pergunta novamente se preparando para sair.
- Para mim qualquer hora baby – Digo tentando me mostrar mais animado, porque de alguma forma, eu me senti mal de repente.
- Ta bom. Beijos Arthur – Ela diz atravessando a rua e me mandando um beijo no ar, já na outra calçada.
Eu levando minha mão e finjo que pequeno beijo no ar e coloco no meu coração.
Ela cora e sai correndo.
Eu entro na sorveteria e pago o sorvete.
Quando saio olho para a mesa em que estávamos sentados e me deparo com a cadeira dela vazia...
E era assim que eu me sentia por dentro... Vazio.


8 dias para o Natal
           

Eu corria... Corria e corria...
Isso que dá dar aquela sonequinha à tarde.
Sabe o que aconteceu. Eu dormi mal sexta e ontem ansioso para vê-la novamente... E hoje, como não tinha nada para fazer naquela casa onde o tédio já é agregado, eu acabei dormindo... E acordei há 10 minutos atrás...
São 18h14! Não acredito que estou atrasado para um encontro com a Lua. Não acredito.
E corro.
Falta só um quarteirão para o cinema, mas parecem quilômetros.
Que maravilha.
Eu acordei e só deu tempo de colocar outra camisa e escovar os dentes... Vou chegar ao cinema despenteado e suado por essa corrida.
Finalmente chego lá e começo a procurar por ela.
Não está lotado, mas tem bastante gente o que torna tudo mais difícil.
É quando a vejo. E ela está simplesmente perfeita.
Lua está usando um vestidinho solto, a dois palmos do joelho... O que favorecem suas pernas...
O que? Sou homem não tem como não olhar...
Os cabelos estão meio presos, meio soltos, mostrando melhor seu rosto.
Ela usa uma leve maquiagem, apenas um gloss e lápis... Acho, porque bem, eu não sei muita coisa sobre esse assunto... E qualquer forma o lápis fazia seus olhos ficarem ainda mais intensos e chamativos, já o gloss, deixava sua boca brilhante, seus lábios ficavam ainda mais convidativos... E chega!
Eu começo a andar em sua direção, chegando perto dela e a abraçando por trás. Ela vira assustada e sorri quando vê que sou eu. Eu!
-Hey – Ela diz – Achei que tinha me dado um bolo.
Impossível.
Olho sem graça para ela. Não culpo os humanos por terem ser acostumados a mentir. As vezes a verdade é meio vergonhosa.
- É que eu dormi e perdi hora.
Ela ri.
- Desculpa – Digo.
- Imagina, acontece com todo mundo.
Eu olho para a fila de ingresso e digo:
- Melhor a gente entrar nessa fila se queremos entrar na próxima sessão.
- Não se preocupe - Ela diz sorrindo e mexendo em sua bolsa – Eu já comprei – Ela pega os ingressos dentro da bolsinha e me mostra.
- Nossa – Digo surpreso – Obrigado, mas não precisava comprar o meu também... Quanto te devo?
- Nada ué.
- Como assim nada? Por acaso você roubou os ingressos? – Digo de brincadeira.
Ela dá um sorrisinho de lado.
- Não. Mas você pagou meu sorvete ontem... Estamos quites.
-Não estamos não – Digo negando com a cabeça – Uma bola de sorvete é três reais, um ingresso é dez...
- Então ta bom, deixe me ver... Eu gastei aproximadamente dez reais de gasolina para vir aqui, oitenta nesse vestido novo, vamos ver quanto dá – Ela diz olhando para minha cara com ironia.
Ela comprou o vestido só para me ver?
- Não se preocupa Thur – Ela continua – No próximo encontro você paga.
Eu abro um sorriso maior que a boca.
Eu tenho medo sim de um dia me encontrar com Lua e ela não querer me ver mais... Acho que seria um dos meus pesadelos... Todos envolvidos com o fato de que um dia eu posso não vê-la mais.
- Vamos entrar então? – ela pergunta.
- Claro – Digo por fim enquanto entramos.


- Onde você prefere – Eu pergunto já dentro da sala de cinema – Mais pra cima ou mais pra baixo.
- Tanto faz, pode escolher.
- Vamos lá em cima então.
Subimos as escadas, eu na frente com Lua atrás de mim. Sentamos em cadeiras bem no meio da fileira.
- Pronto. Aqui está perfeito – Digo.
- Se você diz – Ela responde divertida – Me passa a pipoca?
- Não. Ela é toda minha – Agarro-me ao pacote como se ele fosse meu filho.
- Nossa, ta bom então guloso. Você vai ver só quanto você crescer vai deixar de ser bonito assim e virar um obeso que nem consegue se limpar no banheiro.
Eu daria risada se não tivesse ficado paralisado com o que ela disse.
“... vai deixar de ser bonito assim...” Quer dizer que...
- Você me acha bonito? – Pergunto não conseguindo esconder minha diversão.
Esqueçam de todas a vezes que vocês acharam que tinham visto alguém ficar um pimentão de tão vermelho.
A Lua conseguiu superar dessa vez.
Acho que ela corou até a alma.
Não posso culpá-la por isso. Ela é o tipo de menina inocente, que tem vergonha desse tipo de coisa.
- Até parece que você já não sabia disso – ela responde sem graça enquanto olha para a tela esperando o filme começar.
- Por que eu saberia? – Eu pergunto.
- Ué, sem dúvida você tinha ou tem muitas admiradoras, na escola e em outros lugares – Ela responde sem deixar a vermelhidão do seu rosto sumir.
- Nem tanto – Eu digo sincero – Nunca deixei alguém se aproximar muito de mim.
Ela suspira e olha para mim.
- Você vai me contar um dia né? – Ela pergunta piscando olhos – Vai me contar o que aconteceu de triste na sua vida para você ser tão fechado.
Agora quem suspira sou eu, olho para o lado tentando não demonstrar nada.
Graças a Deus o filme começa ( na verdade os trailers ) e nós dois viramos os olhos para a tela.
Sem querer minha mão toca na dela. Eu a tiro rapidamente e ela nem percebe. Ou melhor, fingi não perceber, porque novamente ela cora.
Eu sei que essas coisas de pegar mãozinha no cinema são clichês... Mas no momento eu queria sentir sua pele sobre a minha.
Então recoloco minhas mãos lentamente sobre a dela. Sinto uma tremedeira passar por seu corpo. Ela está nervosa.
Quem sou eu para criticada dando o fato de que eu também estou.
Seguro sua mão fortemente e me sinto melhor sabe, sinto uma paz...
E logo nossas atenções se voltam para o filme, que acabou de começar, mas em nenhum segundo esqueci de que estava segurando sua mão.


- Gostou do filme? – Pergunto. Quando saímos do cinema, acreditem, de mãos dadas.
- Adorei – Ela responde.
- Podemos vir mais vezes – Sugiro.
- Sem dúvida, mas vamos esperar passar o Natal de novo.
- Concordo.
Andamos um pouco e ela para na minha frente.
- Melhor eu ir – Ela olha o relógio – São quase 21h00.
- Entendo - eu digo.
Ela olha para mim parecendo se lembrar de algo.
- Falando nisso. Você estuda? – Ela me pergunta.
- Não – Digo prontamente – Eu terminei o terceiro ano passado, quis ter um tempo para pensar no que fazer da vida.
- Quantos anos você tem?
- 19 – Respondo e logo em seguida pergunto – E você?
- Eu? – Ela pergunta.
- Não Lua, minha tia.
            Ela ri.
            - 18 – Ela diz por fim.
            Ficamos em silencio por um tempo.
            - Olha, eu tenho que ir – Ela diz quebrando o silencio.
            - Ok, tchau – Eu falo e ela vira as costas começando – E Lua. Sábado as 16h00 no jardim municipal. Vamos fazer um piquenique.
            Ela sorri concordando e continua a andar.
            De repente ela para, e fica assim.
            Eu estranho.
            - Tá tudo bem Luh?
            Ela se vira par mim e corre em minha direção.
            Foi em um piscar de olhos, uma hora ela estava indo embora e no outro seus lábios estavam encostados nos meus.
            Eles eram macios, como se fossem feitos para serem beijados e pareciam se encaixar perfeitamente nos meus.
            Ela não dá muito tempo para eu raciocinar sobre o fato de estarmos nos beijando e ela separa nossas bocas.
Imediatamente me sinto incompleto.
- Até sábado Thur – Ela diz e recomeça a correr.
É, até sábado Lua...

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