Especial de Natal
12 dias antes do Natal
Eu olhava o
relógio da igreja impaciente.
Tinha
chego ali as dez pras quatro... E agora já eram quatro horas.
Estou
apreensivo. Será que ela não vem?
- Oi – Escuto uma linda voz atrás de
mim e dou um suspiro de alivio.
Olho
para trás e encontro aquele sorriso...
-
Oi – Respondo sorrindo também. Não tem como não fazê-lo, a alegria de Lua era,
é e sempre será contagiante.
Ela
chega perto de mim e me abraça.
Meu
coração bate tão rápido que nem consigo senti-lo direito. Seu corpo ali, tão
perto do meu...
-
Posso ser sincera? – Ela pergunta me soltando e me trazendo de volta dos meus
sonhos.
-
Sempre – Eu respondo.
-
Você parecia preocupado? Aconteceu alguma coisa.
Ah,
isso.
Acho
melhor ser sincero. Bem, sempre né...
-
Na verdade – Começo a dizer – Estava preocupado que você não viesse.
Ela
ri. Ela ri de verdade. E o som da sua risada é lindo, mesmo que ela esteja
rindo da minha cara.
-
Arthur! São só 16h06.
-
Eu sei, mas eu sempre quis ter a chance de te conhecer melhor, e você sumiu por
todo aquele tempo, não sei nada sobre você, só que se chama Lua, não
conseguiria te achar e... – Eu tento explicar, mas percebo que falei demais ao
olhar seu rosto.
Ela
está mordendo o lábio para não rir. Fico encarando-os. Eles tem um contorno
perfeito, juntamente com um tom rosado que a deixa inocente... São perfeitos.
Automaticamente sinto uma vontade de beijá-la. Vontade que eu dispenso na mesma
hora.
-
Ah Arthur – Ele diz balançando a cabeça – Vamos tomar o sorvete logo porque
tenho um compromisso daqui a vinte minutos.
Fico
triste no mesmo instante.
-
Aah.
-
Não fique mal, Thur... – Ela me chama de uma forma que nunca fui chamado por
ninguém.
-
Thur? – Pergunto sorrindo.
Ela
cora intensamente. O tom de suas bochechas rosadas a torna ainda mais atraente.
Como
se fosse possível.
-
Desculpa – Ela diz completamente envergonhada. Não quero que ela peça desculpas
por ter me chamado de Thur – Eu não devi...
-
Não se desculpe eu a corto. Pode me chamar assim, eu gostei...
Ela
sorri.
-
Bom Thur... Nós só temos 15 minutos - Ela olha para o relógio – 14 agora.
Melhor irmos logo né?
-
Melhor – Digo por fim.
Começamos
a caminhar em silencio para a sorveteria, que fica logo atrás da praça.
Chegando
lá entramos e pedimos sorvete, eu de chocolate e ela de morango.
-
O que você acha de a gente comer lá fora – Digo apontando para o lado de fora
da sorveteria, onde tem algumas mesas.
-
Ok – Ela diz.
Vamos
para fora e nos sentamos-nos à mesa da sorveteria.
-
E ai? – Ela pergunta – Me conta. Porque você sempre fica na praça.
Eu
respiro fundo e penso no que responder.
-
Nada demais... Eu só me sinto bem lá. Sinto-me em casa.
Ela
da um sorrisinho sincero e começa a tomar seu sorvete, e eu acompanho.
-
Você não é igual aos outros - Ela começa a dizer – Não sei explicar. Falei com
você pela primeira vez há dois dias, mas sei que você é especial.
Sinto-me
feliz como há muito tempo não me sentia.
-
Digo o mesmo para você.
Ela era, era
muito especial.
- Olha aquela
família – Ela diz apontando para uns garotos acompanhados pelos pais – Olha como
os pais se olham, como eles parecem se amar, como as crianças estão felizes...
– Ela diz tocando uma parte dolorida de mim.
Sim, eu me
machucava todos os dias ao ver crianças felizes e amadas por seus pais. Eu
sentia inveja...
Lua deve ter
percebido por minha cara que o assunto não tinha me agradado.
- Desculpa
perguntar – Ela diz tímida – Mas... tem algum problema? Não sei, você ficou
estranho e...
- Bonita essa
parte da cidade nessa época né? – Eu mudo de assunto do nada e ela percebe que
não quero falar sobre aquilo. Eu sei que ela se abriu para mim ontem, mas eu
não estou preparado para isso.
- Eh muito –
ela responde.
Não sei se já
comentei isso, mas realmente aquela região ficava linda no natal.
Enquanto a
pracinha tinha todas as árvores cheias de luzinhas, além da casinha do papai
Noel e do trenzinho, tinha a igreja, a qual a torre era toda iluminada e
enfeitada. Os postes tinham todos enfeites e os estabelecimentos ao redor da
praça também caprichavam nas luzes.
Era realmente
bonito.
Mas eu não me
importava. Pelo menos não até agora...
- tenho que ir
– escuto ela dizer.
Eu tenho que
parar com essa mania de viajar na minha cabeça quando estou com ela, não posso
perder o pouco tempo que tenho ao seu lado...
- Mas já?
- Pois é, já
estou atrasada até – Diz ela se levantando – Mas quero te recompensar por isso.
Que tal nos encontrarmos para ir ao cinema?
- Por mim tudo
bem. – Respondo mais tranqüilo por saber que ela quer me ver novamente.
- Pode ser terça?
– Ela pergunta – É que amanhã tenho um compromisso em família e depois tenho
provas da faculdade, a ultima é na segunda – Ela responde e eu sinto uma
pontada por pensar que ela sairá com a família, quando eu não tenho ninguém...
Ela novamente
parece ver minha cara e continua.
- Terça então?
- Tudo bem.
- Umas seis
horas? – Ela pergunta novamente se preparando para sair.
- Para mim
qualquer hora baby – Digo tentando me mostrar mais animado, porque de alguma
forma, eu me senti mal de repente.
- Ta bom.
Beijos Arthur – Ela diz atravessando a rua e me mandando um beijo no ar, já na
outra calçada.
Eu levando
minha mão e finjo que pequeno beijo no ar e coloco no meu coração.
Ela cora e sai
correndo.
Eu entro na
sorveteria e pago o sorvete.
Quando saio
olho para a mesa em que estávamos sentados e me deparo com a cadeira dela
vazia...
E era assim
que eu me sentia por dentro... Vazio.
8 dias para o Natal
Eu corria...
Corria e corria...
Isso que dá
dar aquela sonequinha à tarde.
Sabe o que
aconteceu. Eu dormi mal sexta e ontem ansioso para vê-la novamente... E hoje,
como não tinha nada para fazer naquela casa onde o tédio já é agregado, eu
acabei dormindo... E acordei há 10 minutos atrás...
São 18h14! Não
acredito que estou atrasado para um encontro com a Lua. Não acredito.
E corro.
Falta só um
quarteirão para o cinema, mas parecem quilômetros.
Que maravilha.
Eu acordei e
só deu tempo de colocar outra camisa e escovar os dentes... Vou chegar ao
cinema despenteado e suado por essa corrida.
Finalmente
chego lá e começo a procurar por ela.
Não está
lotado, mas tem bastante gente o que torna tudo mais difícil.
É quando a
vejo. E ela está simplesmente perfeita.
Lua está
usando um vestidinho solto, a dois palmos do joelho... O que favorecem suas
pernas...
O que? Sou
homem não tem como não olhar...
Os cabelos
estão meio presos, meio soltos, mostrando melhor seu rosto.
Ela usa uma
leve maquiagem, apenas um gloss e lápis... Acho, porque bem, eu não sei muita
coisa sobre esse assunto... E qualquer forma o lápis fazia seus olhos ficarem
ainda mais intensos e chamativos, já o gloss, deixava sua boca brilhante, seus
lábios ficavam ainda mais convidativos... E chega!
Eu começo a
andar em sua direção, chegando perto dela e a abraçando por trás. Ela vira
assustada e sorri quando vê que sou eu. Eu!
-Hey – Ela diz
– Achei que tinha me dado um bolo.
Impossível.
Olho sem graça
para ela. Não culpo os humanos por terem ser acostumados a mentir. As vezes a
verdade é meio vergonhosa.
- É que eu dormi
e perdi hora.
Ela ri.
- Desculpa –
Digo.
- Imagina,
acontece com todo mundo.
Eu olho para a
fila de ingresso e digo:
- Melhor a
gente entrar nessa fila se queremos entrar na próxima sessão.
- Não se
preocupe - Ela diz sorrindo e mexendo em sua bolsa – Eu já comprei – Ela pega
os ingressos dentro da bolsinha e me mostra.
- Nossa – Digo
surpreso – Obrigado, mas não precisava comprar o meu também... Quanto te devo?
- Nada ué.
- Como assim
nada? Por acaso você roubou os ingressos? – Digo de brincadeira.
Ela dá um
sorrisinho de lado.
- Não. Mas
você pagou meu sorvete ontem... Estamos quites.
-Não estamos
não – Digo negando com a cabeça – Uma bola de sorvete é três reais, um ingresso
é dez...
- Então ta
bom, deixe me ver... Eu gastei aproximadamente dez reais de gasolina para vir
aqui, oitenta nesse vestido novo, vamos ver quanto dá – Ela diz olhando para
minha cara com ironia.
Ela comprou o
vestido só para me ver?
- Não se
preocupa Thur – Ela continua – No próximo encontro você paga.
Eu abro um
sorriso maior que a boca.
Eu tenho medo
sim de um dia me encontrar com Lua e ela não querer me ver mais... Acho que
seria um dos meus pesadelos... Todos envolvidos com o fato de que um dia eu
posso não vê-la mais.
- Vamos entrar
então? – ela pergunta.
- Claro – Digo
por fim enquanto entramos.
- Onde você
prefere – Eu pergunto já dentro da sala de cinema – Mais pra cima ou mais pra
baixo.
- Tanto faz,
pode escolher.
- Vamos lá em
cima então.
Subimos as
escadas, eu na frente com Lua atrás de mim. Sentamos em cadeiras bem no meio da
fileira.
- Pronto. Aqui
está perfeito – Digo.
- Se você diz
– Ela responde divertida – Me passa a pipoca?
- Não. Ela é
toda minha – Agarro-me ao pacote como se ele fosse meu filho.
- Nossa, ta
bom então guloso. Você vai ver só quanto você crescer vai deixar de ser bonito
assim e virar um obeso que nem consegue se limpar no banheiro.
Eu daria
risada se não tivesse ficado paralisado com o que ela disse.
“... vai deixar de ser bonito assim...” Quer dizer que...
- Você me acha
bonito? – Pergunto não conseguindo esconder minha diversão.
Esqueçam de
todas a vezes que vocês acharam que tinham visto alguém ficar um pimentão de
tão vermelho.
A Lua
conseguiu superar dessa vez.
Acho que ela
corou até a alma.
Não posso
culpá-la por isso. Ela é o tipo de menina inocente, que tem vergonha desse tipo
de coisa.
- Até parece
que você já não sabia disso – ela responde sem graça enquanto olha para a tela
esperando o filme começar.
- Por que eu
saberia? – Eu pergunto.
- Ué, sem
dúvida você tinha ou tem muitas admiradoras, na escola e em outros lugares –
Ela responde sem deixar a vermelhidão do seu rosto sumir.
- Nem tanto –
Eu digo sincero – Nunca deixei alguém se aproximar muito de mim.
Ela suspira e
olha para mim.
- Você vai me contar
um dia né? – Ela pergunta piscando olhos – Vai me contar o que aconteceu de triste
na sua vida para você ser tão fechado.
Agora quem suspira
sou eu, olho para o lado tentando não demonstrar nada.
Graças a Deus
o filme começa ( na verdade os trailers ) e nós dois viramos os olhos para a
tela.
Sem querer
minha mão toca na dela. Eu a tiro rapidamente e ela nem percebe. Ou melhor,
fingi não perceber, porque novamente ela cora.
Eu sei que
essas coisas de pegar mãozinha no cinema são clichês... Mas no momento eu
queria sentir sua pele sobre a minha.
Então recoloco
minhas mãos lentamente sobre a dela. Sinto uma tremedeira passar por seu corpo.
Ela está nervosa.
Quem sou eu
para criticada dando o fato de que eu também estou.
Seguro sua mão
fortemente e me sinto melhor sabe, sinto uma paz...
E logo nossas
atenções se voltam para o filme, que acabou de começar, mas em nenhum segundo
esqueci de que estava segurando sua mão.
- Gostou do
filme? – Pergunto. Quando saímos do cinema, acreditem, de mãos dadas.
- Adorei – Ela
responde.
- Podemos vir
mais vezes – Sugiro.
- Sem dúvida,
mas vamos esperar passar o Natal de novo.
- Concordo.
Andamos um
pouco e ela para na minha frente.
- Melhor eu ir
– Ela olha o relógio – São quase 21h00.
- Entendo - eu
digo.
Ela olha para
mim parecendo se lembrar de algo.
- Falando
nisso. Você estuda? – Ela me pergunta.
- Não – Digo prontamente
– Eu terminei o terceiro ano passado, quis ter um tempo para pensar no que
fazer da vida.
- Quantos anos
você tem?
- 19 –
Respondo e logo em seguida pergunto – E você?
- Eu? – Ela pergunta.
- Não Lua,
minha tia.
Ela
ri.
-
18 – Ela diz por fim.
Ficamos
em silencio por um tempo.
-
Olha, eu tenho que ir – Ela diz quebrando o silencio.
-
Ok, tchau – Eu falo e ela vira as costas começando – E Lua. Sábado as 16h00 no
jardim municipal. Vamos fazer um piquenique.
Ela
sorri concordando e continua a andar.
De
repente ela para, e fica assim.
Eu
estranho.
-
Tá tudo bem Luh?
Ela
se vira par mim e corre em minha direção.
Foi
em um piscar de olhos, uma hora ela estava indo embora e no outro seus lábios estavam
encostados nos meus.
Eles
eram macios, como se fossem feitos para serem beijados e pareciam se encaixar
perfeitamente nos meus.
Ela
não dá muito tempo para eu raciocinar sobre o fato de estarmos nos beijando e
ela separa nossas bocas.
Imediatamente
me sinto incompleto.
- Até sábado
Thur – Ela diz e recomeça a correr.
É, até sábado
Lua...
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